Hoje se inicia a Mostra Fantaspoa Revisitado. A partir das 15 horas, serão exibidos a maior parte dos filmes vencedores de prêmios no VI Fantaspoa, bem como alguns filmes que foram sucesso de público. Para o dia de hoje, temos, às 15 horas, o filme argentino Recortadas, que recebeu Menção Honrosa de Produção de baixo-orçamento e foi aqui representado pelo produtor Juan Pablo Caserta e pelo assistente de direção Mauro Narducci. Às 17 horas, para confirmar a boa sofra de filmes argentinos, outra obra dos nossos vizinhos: Massacre Esta Noite, que recebeu Menção honrosa de Melhor Banho de Sangue. Por fim, às 19 horas, apresentaremos Uma noite na cidade, animação tcheca vencedora de diversos prêmios no circuito de festivais (Czech Lions, Anifest, Animabasauri, entre outros festivais), e que angariou, aqui no VI Fantaspoa, o prêmio de melhor animação.
Compareçam, provavelmente é a última oportunidade de se assistir aos filmes do VI Fantaspoa em salas de cinema. E, por favor, se puderem, divulguem aos conhecidos.
Abraços!
João Fleck e Nicolas Tonsho
Abaixo, seguem alguns textos retirados da internet de blogs, escritos por pessoas que assistiram aos filmes no Fantaspoa.
Recortadas
RECORTADAS (2009, Argentina. Dir: Sebastián De Caro)
Ironicamente, na mesma semana em que “À Prova de Morte”, do Tarantino, finalmente chegava aos cinemas brasileiros, esta obscura produção argentina foi exibida no Fantaspoa. E a comparação é inevitável: em oitenta e poucos minutos, “Recortadas” é uma homenagem muito mais sincera e fiel ao espírito “anos 70” de cinema sexploitation do que as duas horas do filme do Tarantino, ou do que as mais de três horas do fracassado projeto “Grindhouse” – algo que eu disse aos próprios realizadores do filme, os simpáticos Juan Pablo Caserta (produtor) e Mauro Narducci (assistente de direção), no final da sessão. Como muitas daquelas amalucadas produções feitas nos anos 70 para exibição em cinemas pobretões ou drive-ins, “Recortadas” tem um fiapo de história (muito semelhante a “Hostel 2”) costurado com uma miscelânea de cenas, personagens e diálogos que pouco ou nada têm a ver com o “todo”: um sujeito engraçado falando sobre a importância das estátuas-vivas, um velhote se masturbando num museu diante de pássaros empalhados, o sexo virtual praticado por uma garota com um nerd numa lan house, e por aí vai. No meio dessa balbúrdia, e com as generosas cenas de nudez das duas gatinhas que estrelam o filme (mulheres fortes e “machonas”, como as de Tarantino), fica até fácil embarcar na brincadeira e esquecer que o filme não tem muito objetivo. Mantendo o espírito “grindhouse” que nem Tarantino nem Robert Rodriguez conseguiram emular a contento, “Recortadas” também traz uma divertida seqüência com os atores dublados em outras línguas (alemão e italiano), homenageando o sexploitation produzido na Europa. Pode até não ser nenhuma maravilha, mas com certeza cumpre seu objetivo (e diverte) muito mais que o pretensioso e cansativo “Death Proof”.
Autor: Felipe M. Guerra
Fonte: http://filmesparadoidos.blogspot.com/
Massacre esta Noite
MASSACRE ESTA NOITE (Masacre Esta Noche, 2009, Argentina. Dir: Adrián e Ramiro García Bogliano)
Um dos destaques do Fantaspoa 2010. Com câmera digital e produção quase amadora, conta a história de um pobre videomaker argentino contratado para trabalhar como operador de câmera nas filmagens de um suspeitíssimo filme pornô, numa fazenda deserta e durante a noite. Quando o diretor grita “Ação!”, os temores do rapaz se concretizam: ele acabou envolvido com uma cadeia internacional de realizadores de “snuff movies”, e terá que lutar – literalmente – para não se transformar no próximo “ator” a ser assassinado diante das câmeras. Com idéia simples e divertida, tudo funciona que é uma beleza no filme. Inicialmente, pelo resumo da trama, pode até parecer uma comédia de humor negro, mas na verdade “Massacre Esta Noite” é um terror sério e violentíssimo, embora com um senso de humor doentio que faz graça de momentos asquerosos (como aquele em que os sujeitos posam para fotografias ao lado de um cadáver decapitado!). O elenco está inspiradíssimo, principalmente o diretor malucão que acredita estar fazendo arte (interpretado por Diego Cremonesi) e o decadente e barrigudo ator pornô (Rolf García). Os diálogos também fogem do besteirol típico do gênero e buscam discutir seriamente a questão do fascínio pelos “snuff movies” – um tema recorrente em diversas produções recentes. Principalmente quando o afetado diretor compara o gigantesco número de acessos em um vídeo real colocado no YouTube com a bilheteria reduzida do último filme de David Lynch. Já o final é um show de sangue e variados tipos de agressão física, com direito a faca enfiada no pescoço saindo por dentro da boca (à la “Terror na Ópera”). Uma verdadeira surpresa, que mais uma vez comprova o banho que nossos hermanos estão nos dando também em matéria de cinema fantástico.
Autor: Felipe M. Guerra
Fonte: http://filmesparadoidos.blogspot.com/
Uma noite na cidade
Acabo de voltar do Santander Cultural, onde rolava uma sessão de um filme parte da VI edição do Fantaspoa – Festival Intenacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre. Pra quem não tem a mínima ideia do que é isso, a parte do “Fantástico” se refere à filmes de conteúdo fantasioso e pura ficção. Ficção todo filme é, mas nesse caso é algo realmente extrapolante. A grande maioria das películas em exibição até domingo dia 18/07 são obras de terror, suspense, ficção cietífica, fantasias quase surreais ou coisa parecida.
Quem quer saber mais e ver a programação, http://www.fantaspoa.com/2010/index.php
Agora vamos à tal sessão. Devo dizer que foi a primeira da história do festival que eu fui e também a primeira vez que vou ver um filme no Santander Cultural. À primeira vista, já me surpreendi pelo ambiente mais “bem acabado” e pela quantidade de cadeiras. Geralmente esses cinemas de “filme arte” e etcs são pequenos, de espaço ruim e qualidade da imagem e som ruins. Não é o caso aqui, que tinha um número de assentos maior e a projeção do filme, feita direta de DVD, estava muito boa.
Outro detalhe, não só me surpreendi com quantos assentos tinha como também com a quantidade de gente que foi. Na boa, não esperava quase ninguém e vi uma boa quantidade de gente disposta a ir num cinema fora de uma shopping, menor e com filmes mais do lado B, numa quarta-feira à noite.
O filme da vez era “Uma Noite na Cidade”, de título original e impronunciável em tcheco. A direção e co-roteirização é do Jan Balej, que escreveu o filme junto do Ivan Arsenjev. Produção de Viktor Mayer, música de Tadeas Vercak, design de som do Zbynek Mader e fotografia de Miloslav Spála.
Citei os nomes de todos esses envolvidos não só porque consta no site do festival, mas porque todas essas partes do todo foram feitas com maestria. Música, fotografia, direção de arte, direção, efeitos sonoros e o roteiro, todos casam perfeitos entre si para contar a história de forma magnífica. Claro, a direção de arte do mini-mundo dos bonecos animados, as suas animaçãoes e o roteiro merecem um destaque à mais. Porra, é impressionante a criatividade das diferentes situações e personagens do longa. Mesmo ele sendo separado em três segmentos que pouco tem a ver um com o outro, fora o estilo, narrativa e estética, é um filme perfeitamente apreciado por uma criança de 5 anos e um senior aposentado.
A história é dividade entre 3 partes, a 1ª e a 3ª compreendendo personagens que se cruzam de longe entre si e a 2ª parte, a mais surreal de todas, composta por dois personagens muito bem construídos e peculiares. Tanta desconexão não chega a incomodar, pois a cada momento focamos numa história que é interessante e dá variedade à obra. Se trata de uma animação em stop-motion (aquela da Fuga das Galinhas e Estranho Mundo de Jack, com bonequinhos que são milimétricamente mexidos e fotografados a cada mexida para no fim eles parecerem terem vida própria). Os bonecos eu acho que são de madeira com peças articulas, com formas bem caricatas e engraçadas. Destaque pra um gato feito com latão (igual aos de assar churrasquinho de gato, hehehe) e o rosto é só uma parte de uma fotografia de uma pin-up.
Não quero estragar nada, porque todas histórias são muito inusitadas e fodásticamente criativas. O máximo que posso falar é como boa parte das histórias lida com as loucuras e bizarrieces humanas de forma muito cômica e interessante.
O outro grande lance e certo diferencial do filme é que ele simplesmente não tem diálogo. Porém, ele está longe de ser um filme mudo. Os personagens até dialogam, mas são somente grunhidos enrolados que não formam língua nenhuma (por mais que a língua tcheca deva ser estranho pra cacete). Dessa forma, mesmo sendo da República Tcheca, é perfeitamente inteligível para qualquer um.
O ponto importante do filme e sua sonoridade são os efeitos sonoros. Eles dão toda a vida para as ações dos personagens, tornando aqueles bonecos inanimados em seres mais próximos de possuir carne e osso. Some aí a música fantástica e se tem algo que daria pra imaginar Chaplin fazendo hoje, se estivesse vivo.
Todos esses elementos curiosos não fazem de Uma Noite na Cidade uma punheta de “arte pela arte” ou algo pretensioso demais. Sim, eu não sei se vi coisa parecida, portanto ele sem dúvidas é inovador. Mas mais do que isso, a capacidade de manter o público atento às diferentes histórias surreais é o arroz-com-feijão do filme. Posso exagerar no lance de criança de 5 anos, que não entenderá algumas insinuações sexuais e podem se traumatizar com a única cena com sangue(só que é sangue de massinha de modelar!) do filme, mas boa parte é compreensível pelas mais diversas pessoas em diferentes idades e divertindo-as na mesma proporção.
Autor: Finkler (Lucas Augusto F. Schmidt)
Fonte: http://amoraudiovisualerocknroll.blogspot.com/