O HOMEM DO HORROR NA ARGENTINA

por Carlos Primati

Não seria exagero algum afirmar que Narciso Ibáñez Menta é uma espécie de Zé do Caixão da Argentina. Assim como Jacinto Molina é o Lon Chaney Jr. da Espanha. Os três astros – Menta, Marins e Molina – não são apenas os maiores nomes do cinema de horror em seus respectivos países, mas acima de tudo, os abnegados artistas que, devido à dedicação ao gênero, garantiram a inclusão de Argentina, Brasil e Espanha no mapa-múndi do horror.
O que os diferencia é a maneira com a qual suas obras são tratadas em seus respectivos países. Segundo Gustavo Leonel Mendoza, diretor do documentário NIM: Ninguém Incomodou Mais, feito com recursos próprios e exibido em destaque durante o V Fantaspoa, a obra de Menta é praticamente desprezada em seu país, fazendo com que seja improvável que algum dia seja resgatada para lançamento em DVD. O jeito é procurar junto aos colecionadores os poucos filmes ainda disponíveis ou buscar em sites de compartilhamento de arquivos na internet.
Una Luz en la Ventana, filme que marcou a estreia de Menta no horror, em 1942, é a história de um homem que sofre de acromegalia e tem as feições do rosto deformadas pela doença. O filme foi realizado dois anos antes de Rondo Hatton, ator acromegálico estadunidense, protagonizar seus controversos filmes de horror para o estúdio Universal. O filme de Menta, uma raridade, foi conseguido por Mendoza junto a um colecionador. A inserção de trechos deste filme no documentário, inclusive com defeitos típicos de uma fita VHS amassada e se desmagnetizando, dá um charme decadente e melancólico ao filme de Mendoza.
Outro momento importante na carreira de Menta é o longa-metragem Obras Maestras del Terror, uma antologia de contos de Edgar Allan Poe interpretados pelo grande ator. O filme foi realizado em 1960, mesmo ano em que Roger Corman revigorou o cinema de horror dos EUA com o início de seu ciclo de adaptações da obra do escritor bostoniano. O filme argentino fez sucesso internacional e chegou inclusive a ser exibido na televisão brasileira e nos cinemas estadunidenses.
Contrastando com o descaso reservado à obra de Menta, como no lamentável episódio envolvendo o reaproveitamento das fitas originais da minissérie de televisão El Fantasma de la Ópera, seus colegas Jacinto Molina e José Mojica Marins têm o privilégio de ver, ainda em vida, suas carreiras se renovando através do relançamento em DVD de parcelas representativas de suas obras, acompanhado de todo o louvor e homenagens que estes verdadeiros heróis do horror merecem.

Published in: on julho 8, 2009 at 6:44 pm  Deixe um comentário  

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